Aprendizagem Formal, Não Formal e Informal: Caminhos para a Aprendizagem ao Longo da Vida

aprendizagem ao longo da vida

Aprendizagem Formal, Não Formal e Informal: Caminhos para a Aprendizagem ao Longo da Vida

Apesar de aprender ser uma habilidade intrínseca, fomos educados por gerações dentro de um sistema que nos moldou com algumas crenças que nos acompanham até hoje.

O mundo contemporâneo exige que voltemos a ser aprendizes ao longo da vida. Com a rápida evolução tecnológica, o acesso à informação e as constantes mudanças no mercado de trabalho, a habilidade de aprender, desaprender e reaprender tornou-se crucial. Segundo Alvin Toffler, “os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender.”

Neste contexto, entender os diferentes ambientes onde o aprendizado ocorre– formal, não formal e informal – e desenvolver a mentalidade de aprendiz ao longo da vida para potencializar toda oportunidade de aprendizagem, é fundamental para quem busca se manter relevante e competitivo. Reforçando que quando usamos esses termos estamos nos referindo ao AMBIENTE em que a aprendizagem ocorre. Neste artigo, exploramos essas formas de aprendizado e suas aplicações no contexto organizacional.

Aprendizagem Formal

Aprendizagem formal é toda iniciativa que ocorre dentro de um ambiente oficial e reconhecido. Esse tipo é o mais próximo do que chamamos de educação e tem algumas características específicas, além de ser institucionalizado. É um sistema heterodirigido, hierárquico, que oferece conteúdo pré concebido, de maneira estruturada e complexidade crescente. Ao final de cada nível, há uma avaliação, seguida de uma certificação do conhecimento. O famoso método tradicional, conhecemos bem esse. Exemplos clássicos incluem:

  • Educação Escolar: Ensino fundamental, médio e superior.
  • Cursos Universitários: Graduação, pós-graduação e doutorados.
  • Certificações Profissionais: Programas de formação profissional e técnica.

O aprendizado formal acontece com o intuito de formar uma base de conhecimentos especializados (não necessariamente de interesse do indivíduo). No entanto, ele tem suas limitações, como a rigidez curricular e a falta de flexibilidade para abordar necessidades individuais de aprendizagem, limitando a nossa capacidade de desenvolver habilidades naturais de cada indivíduo.  Como apontado por Conrado Schlochauer em “Lifelong Learners,” “o aprendizado formal é a base, mas não pode ser o único caminho para o desenvolvimento.”

Aprendizagem Não Formal

O aprendizado não formal, ocorre fora do sistema educacional tradicional e é mais flexível e adaptável às necessidades dos aprendizes. Este tipo de aprendizado é levemente estruturado, com algumas aberturas mais flexíveis, mas não leva a certificações formalmente reconhecidas. Exemplos incluem:

  • Workshops e Treinamentos:Sessões focadas em habilidades específicas.
  • Cursos Online e MOOCs:Plataformas como Coursera e Udemy oferecem uma ampla gama de cursos.
  • Programas de Desenvolvimento Profissional:Treinamentos oferecidos por empresas para melhorar habilidades dos funcionários.

Jay Cross, em seu trabalho sobre aprendizado informal, destaca a importância do aprendizado não formal no ambiente corporativo, onde a adaptabilidade e a personalização são essenciais para o desenvolvimento contínuo dos colaboradores.

Aprendizagem Informal

E finalmente, a aprendizagem informal, que entra em qualquer formato que não se encaixe nas anteriores. Uma iniciativa espontânea e não estruturada que pode acontecer em qualquer lugar, a qualquer hora, com ou sem a nossa consciência. Ele ocorre em todos os contextos da vida cotidiana. O aprendizado informal é fundamental por um motivo simples:” é o jeito natural de aprendermos.”

Um ponto de atenção no aprendizado informal, é que, ou ele ocorre sem a nossa intenção e conhecimento. Ou, a busca INTENCIONAL por espaços informais deve ser parte da mentalidade de qualquer aprendiz. Exemplos de aprendizagem informal incluem:

  • Autoaprendizagem Autodirigida: Consumir conteúdos em diversos formatos, se conectar com pessoas que conhecem sobre o assunto, ou mesmo estão dispostas a conversar sobre. Viver experiências que aumentam nossa percepção e conhecimento sobre determinado assunto. E se conectar a redes de pessoas que estão vivendo e aprendendo sobre os mesmos assuntos.
  • Mentoria e Networking: Aprender com colegas de trabalho, mentores e através de conversas informais.
  • Experiências Cotidianas: Resolver problemas práticos, responsabilidades familiares, hobbies e atividades de lazer.

Mais uma vez, Jay Cross argumenta que a maior parte do aprendizado no local de trabalho ocorre fora das salas de aula e programas formais. Segundo ele, “as interações diárias e o compartilhamento de conhecimento entre colegas são cruciais para o desenvolvimento contínuo, tanto do colaborador, como da organização.”

Etienne Wenger, co-autor do conceito de Comunidades de Prática, afirma que “as comunidades de prática são grupos de pessoas que compartilham uma preocupação ou uma paixão por algo que fazem e aprendem a fazê-lo melhor à medida que interagem regularmente.” Isso reforça a importância do aprendizado informal e das interações diárias no desenvolvimento contínuo.

Integração dos Três Tipos de Aprendizado

Para se tornar um aprendiz ao longo da vida, é fundamental integrar os três tipos de aprendizado. Cada um tem seu papel e contribui de maneira única para o desenvolvimento pessoal e profissional. Conrado Schlochauer enfatiza que a aprendizagem deve ser vista como um contínua, onde o formal, o não formal e o informal se complementam.

  1. Aprendizado Formal: Apesar de acreditarmos que esse formato pode passar por uma reformulação, ele fornece uma base sólida de conhecimentos especializados. Sem dúvidas, existem profissões e certos conhecimentos que precisam de uma formação dentro desse ambiente de aprendizagem.
  2. Aprendizado Não Formal: Oferece flexibilidade e adaptabilidade, permitindo o desenvolvimento de habilidades específicas conforme necessário. Um ótimo aliado do aprendizado informal.
  3. Aprendizado Informal: Encoraja a curiosidade, a descoberta e a autoaprendizagem, promovendo um desenvolvimento contínuo e autodirigido.

Aplicações Práticas no Ambiente Corporativo

No ambiente corporativo, promover uma cultura de aprendizagem que valorize principalmente o aprendizado informal pode trazer inúmeros benefícios. Empresas que incentivam o aprendizado contínuo tendem a ser mais inovadoras e adaptáveis às mudanças do mercado. Além de fomentar mais confiança, colaboração e autonomia entre os colaboradores. Aqui estão algumas estratégias para implementar uma cultura de aprendizagem:

  • Programas de Mentoria: Facilitar o aprendizado informal através de mentoria e coaching entre colaboradores, criando duplas de accountability, onde o intuito é ter suporte e apoio mútuo, potencializar as responsabilidades e eliminar as desculpas.
  • Plataformas de E-learning:Oferecer trilhas de aprendizagem com diversidade de conteúdo e liberdade de escolha para o colaborador criar as próprias trilhas a partir dos interesses pessoais e organizacionais promovendo o aprendizado não formal.
  • Incentivo à comunidades de aprendizagem e a aprendizagem autodirigida: Criar um ambiente onde os funcionários sejam encorajados a aprender de forma independente e compartilhar conhecimentos através de arquiteturas de aprendizagem que impulsionam a troca de saberes e conhecimentos do coletivo.

Como Peter Senge destaca no livro, A Quinta Disciplina, “as organizações que se destacam no futuro serão aquelas que descobriram como aproveitar o compromisso das pessoas e a capacidade de aprender em todos os níveis da organização.” Essa visão reforça a necessidade de uma cultura de aprendizado integrada e dinâmica.

Benefícios na Cultura de Aprendizagem

Uma cultura de aprendizado sólida, oferece múltiplos benefícios para uma organização. Quando criamos espaços intencionais para que o maior ativo de uma organização, o colaborador, se desenvolva a partir de interesses pessoais que agregam no coletivo, estamos potencializando o poder de aprendizagem da própria organização como um sistema vivo, que está em constante evolução:

  • Desenvolvimento Holístico: Ao combinar diferentes iniciativas de aprendizagem, os colaboradores desenvolvem uma gama completa de competências de convivência, nutrição de relacionamentos saudáveis, conhecimentos técnicos, habilidades interpessoais e o que mais for mapeado.
  • Maior Adaptabilidade: A capacidade de aprender e se adaptar rapidamente a novas situações e tecnologias é crucial em um mercado de trabalho em constante evolução.
  • Engajamento e Retenção: Funcionários que têm acesso a diversas oportunidades de aprendizado estão mais engajados e têm maior probabilidade de permanecer na empresa.
  • Inovação: Ambientes que promovem o aprendizado contínuo incentivam a criatividade e a inovação, essenciais para o sucesso a longo prazo.

O aprendizado ao longo da vida é uma jornada contínua que se desenrola através do aprendizado formal, não formal e informal. Cada um desses tipos de aprendizado tem seu papel e importância, e a integração deles é fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. Empresas que promovem uma cultura de aprendizado integrada não apenas capacitam seus colaboradores, mas também se posicionam de forma mais competitiva no mercado.

Promover um ambiente onde os tipos de aprendizagem coexistam harmoniosamente é a chave para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança. Como Jay Cross e Conrado Schlochauer argumentam, o aprendizado não é apenas um meio de adquirir conhecimento, mas uma forma de se adaptar, inovar e prosperar em qualquer contexto.

Adotar uma cultura de aprendizado robusta não é apenas uma estratégia inteligente; é uma necessidade para qualquer organização que deseja prosperar.

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