Neurociência e Aprendizagem: como essa relação influencia as empresas?

Neurociência e Aprendizagem: como essa relação influencia as empresas?

Um executivo está em uma cafeteria quando é arrebatado por um aroma delicioso. Imediatamente, a sua mente o faz voltar no tempo para a época da infância. A lembrança é da sua mãe tirando um bolo de fubá quentinho do forno — era o preferido dele. Voltando para o presente, ele pede o bolo de fubá da cafeteria que reavivou esse pensamento agradável. Temos aí um exemplo da relação entre a neurociência e aprendizagem.

Neste artigo, “mergulharemos” no universo dessas duas áreas humanas. No decorrer do conteúdo, entenderemos porque elas são interligadas e como influenciam o mundo corporativo. Acompanhe os próximos tópicos!

De que forma a ciência modifica o mercado?

Aristóteles é considerado o pai da abordagem de investigação científica. Com essa base, grandes cientistas como Galileu Galilei e René Descartes, formalizaram o método científico. Então, aconteceram muitas descobertas importantes no ramo da ciência que levaram o progresso para o mundo.

Logo, a ciência “deu as mãos” ao setor empresarial, fomentando um dos grandes saltos no desenvolvimento econômico mundial: a revolução industrial. Esse casamento se mostrou tão eficaz que dura até hoje. Por exemplo, a neurociência é um campo científico muito aplicado no desenvolvimento dos profissionais corporativos.

Quando suas técnicas são utilizadas, ocorre a melhoria nos treinamentos, capacitações, recrutamento, reconhecimento de habilidades e otimização da produtividade. Além disso, a neurociência é facilmente inserida em todos os setores organizacionais. O resultado é sentido, por exemplo, nas inovações que as empresas oferecem ao mercado em que atuam.

Um exemplo claro de como a neurociência impulsiona a área empresarial são os treinamentos baseados ematividades experienciais. Por meio de técnicas científicas, os profissionais recebem uma instrução imersiva focada no desenvolvimento individual. Dessa forma, a aprendizagem atinge a área cognitiva do cérebro, elevando a retenção e a aplicação dos conceitos.

O que é, afinal, a neurociência?

Em termos simples, a neurociência é uma ramificação científica que estuda o sistema nervoso central. Sendo assim, todas as funcionalidades (estrutura, fisiologia e patologias) dessa área do corpo humano, são pesquisadas pela neurociência. Na prática, o sistema nervoso central é responsável pelos nossos movimentos físicos e atividades cerebrais.

Um dos focos da neurociência é a cognição, ou seja, a habilidade humana ligada ao pensamento, inteligência, aprendizado, memória, linguagem, sentimentos, percepção e a capacidade de tomar decisões. Todas essas habilidades são associadas aos cinco sentidos e fundamentais para o aprendizado humano.

Sendo assim, a neurociência pesquisa como um indivíduo adquire conhecimento por meio da atividade cognitiva e de experiências sensoriais as quais é submetido, como um cheiro, imagem, música ou sabor. Desta forma é possível descobrir como os humanos percebem, pensam, agem, lembram e, por fim, aprendem. Foi esse ramo científico que apontou para a incrível conexão das pessoas com estímulos externos.

Voltando ao exemplo citado no início do artigo, entenderemos melhor a cognição. O executivo aprendeu ainda criança que o bolo de fubá é delicioso. Essa descoberta começou por observar a sua mãe juntando os ingredientes, sentir o aroma vindo do forno e degustar o bolo quentinho. Todo esse cenário sensorial criou um efeito tão profundo nele, que anos depois, um simples cheiro o fez relembrar uma antiga memória.

Após isso, veio a aplicação do conhecimento adquirido: o pedido do bolo de fubá na cafeteria. Olhando friamente, parece algo simples e automático, mas entre o cheiro e o pedido, aconteceram atividades cerebrais complexas que fizeram girar as engrenagens cognitivas do executivo — a neurociência procura entender exatamente o que acontece nesse espaço de tempo.

Como explicar a relação entre neurociência e aprendizado?

O livro “Cem Anos de Solidão”, do escritor Gabriel Garcia Marquez, conta a história de uma pequena vila que é invadida por uma praga que rouba a memória dos habitantes. Em pouco tempo, as pessoas perdem as lembranças pessoais, nomes e funções de objetos utilizados no cotidiano.

Um homem tenta lutar contra os efeitos da praga colocando etiquetas em todos os utensílios da casa, mas não obtém sucesso. Afinal, a praga destrói seu conhecimento de palavras e letras. Essa obra literária demonstra bem o valor do aprendizado e da memória para a vida humana. Afinal, o aprendizado significa uma mudança de comportamento por meio de um conhecimento adquirido.

Já a memória é o “canal” que codifica, armazena e entrega esse conhecimento. Uma vez perdida a capacidade de aprender e lembrar, um indivíduo esqueceria até a sua identidade pessoal. Buscando impedir a perda do conhecimento e solidificar o aprendizado, a neurociência aponta “caminhos” que são fundamentais para o mundo empresarial.

Um deles se refere ao desenvolvimento da liderança. No passado, o perfil de um líder eficiente era traçado com base em atributos meramente externos. Por exemplo, se tivesse uma feição autoritária e a habilidade de impor ordens, o colaborador adquiria uma boa possibilidade de alcançar a função de chefia. No entanto, saber liderar envolve muitos outros fatores importantes e que não são claramente visíveis.

Por isso, com a ajuda da neurociência, as empresas aprofundam o conhecimento sobre os colaboradores. Isso é possível mediante o entendimento do subconsciente humano pela ótica da personalidade, tendências, motivações intrínsecas, competências, fraquezas e outros mecanismos internos que compõem o padrão cognitivo pessoal.

Desse modo, a organização seleciona líderes de maneira estratégica. Como assim? Digamos que a meta da empresa seja a criação de equipes mais criativas e colaborativas voltadas para a otimização e o alcance da excelência nos processos internos. Que tipo de líder seria o mais indicado para coordenar um desses times? A neurociência pode responder.

Uma das respostas a essa pergunta viria por meio da identificação de determinadas soft skills, como: comunicação eficaz, pensamento criativo e, claro, espírito de liderança. Para obter esse conhecimento sobre um profissional, atualmente se utiliza tecnologias e técnicas embasadas na neurociência.

Podemos apontar a gamificação como um desses recursos. Esse conceito envolve o uso de jogos customizados para a aprendizagem empresarial. Alguns desses games são virtuais e cheios de atividades desafiadoras que testam a habilidade cognitiva dos participantes. O mesmo acontece com, as já citadas, atividades experienciais.

Uma vez que oferecem um fluxo de desenvolvimento ligado a neurociência por meio de cinco etapas: preparação, experiência, consciência, debriefing e aplicação. No decorrer desse trajeto do aprendizado, a empresa obtém o perfil dos colaboradores, escolhe os que são aptos para a liderança e os introduz no programa de desenvolvimento.

Por fim, o próprio líder passa a utilizar as técnicas da neurociência para compreender melhor os seus subordinados. O resultado disso é uma liderança mais empática que fortalece a comunicação e discerne como cada colaborador pode ser alocado na função certa. Dessa forma, os projetos seguem um ritmo constante ao passo que os envolvidos cumprem tarefas compatíveis com o perfil deles.

Quais as cinco principais conclusões neuro científicas acerca do aprendizado?

Grandes estudiosos da psicologia cognitiva como: Jean Piaget, Henri Wallon e David Ausubel, apontaram uma luz sobre muitas das conclusões feitas pela neurociência moderna em relação à aprendizagem. Embora essa área científica não forneça estratégias de ensino, pois é o foco da pedagogia, ajuda no enriquecimento do processo educativo.

Por exemplo, se sabe por meio da neurociência que há uma conexão entre um ambiente rico de informações e o aumento das sinapses cerebrais. Sendo assim, com as fontes didáticas vindas da pedagogia, a neurociência enriquece as informações por potencializá-las. Em outras palavras, seria como “colocar adubo” no solo do conhecimento, assegurando assim o crescimento da retenção e da aplicação.

Para entendermos melhor os efeitos da neurociência no aprendizado, elencaremos as cinco principais conclusões neuros científicas recentes.

Emoção

A neurociência conhece o poder que a emoção tem sobre o aprendizado, pois interfere diretamente no processo de retenção das informações. Portanto, quanto mais emoção um indivíduo tem em um determinado evento, são mínimas as possibilidades de esquecê-lo. Em resumo, o aspecto emocional tem grande peso na motivação para aprender.

É por isso que dificilmente nos esquecemos, por exemplo, do dia e de como aprendemos a andar de bicicleta. Esse evento foi carregado de emoções como o medo, ansiedade e a alegria de começar a pedalar sem a ajuda das rodinhas.

Motivação

Sem motivação não existe aprendizado. Como comparação, um indivíduo sem fome não deseja comer, e sem sede, nem pensa algo para beber. Isso acontece devido ao sistema de recompensa de nosso cérebro que está intimamente ligado à motivação.

Quando esse sistema gera a dopamina (hormônio do prazer) em relação a algo, a pessoa sente-se motivada a continuar focando nele. De acordo com o livro “Fique de bem com o seu cérebro”, da escritora Suzana Herculano-Houzel, sem a obtenção do prazer vindo do sistema de recompensa, o cérebro fica frustrado, e tarefas são abandonadas. Inclusive as atividades de aprendizagem.

Atenção

A atenção é essencial para a aprendizagem. Uma vez que, o nosso sistema nervoso central apenas assimila algo quando estamos atentos. Em vista disso, o ser humano tem a capacidade cognitiva de optar e manter o controle sobre que tipos de informações externas entram em sua mente. Dessa forma, é possível realizar um determinado processo sem interferências indesejáveis.

No entanto, o desinteresse pelo aprendizado leva o indivíduo a não prestar atenção aos ensinamentos. De acordo com a neurociência, a interação do aluno com as atividades é uma das melhores maneiras de captar a atenção dele.

Memória

Para a neurociência a memória é a base para retenção do conhecimento. Contudo, é o processo de memorização que indica se uma informação permanecerá em nosso cérebro. Para que isso ocorra, os ensinamentos devem ser relacionados com o meio social e físico. Assim, o aprendiz encontra significado neles e reflete na sua aplicação.

Essa trinca: relação, significação e reflexão, “carimbam” o conhecimento em nossas mentes. Segundo o livro “Neurociência e educação: como o cérebro aprende”, dos escritores Ramon M. Cosenza e Leonor B. Guerra, o registro de uma informação é mais forte se o vincularmos com o que já está guardado no nosso acervo de conhecimentos.

Ambiente

A neurociência confirma a frase: “somos produtos do meio em que vivemos”. Sem dúvidas, o impacto do ambiente externo no sistema nervoso provoca transformações anatômicas e funcionais no cérebro. Sendo assim, a quantidade de neurônios e conexões cerebrais modificam dependendo das experiências que passamos na vida.

Trazendo para o universo da aprendizagem, o aluno deve ser ativo nas atividades, mas necessita de um ambiente que favoreça e potencialize os ensinamentos. Em vista disso, os estímulos de um processo educativo devem criar uma atmosfera experiencial.

Quais as vantagens da neurociência nas empresas?

Como vimos, a parceria da neurociência com o mundo corporativo tem-se mostrado um casamento muito produtivo. A seguir, apontaremos as principais vantagens dessa união.

Desenvolvimento de habilidades

A gestão de competências é um tema muito abordado pelas organizações atuais. Uma das facetas desse gerenciamento é a identificação e o desenvolvimento das habilidades do capital humano. Nesse caso, a neurociência é utilizada para compreender o nível de competência de um colaborador.

A partir daí, o programa de aprendizagem é norteado por técnicas científicas que potencializam as habilidades inatas. Durante esse processo, o aprendiz talvez exponha competências desconhecidas que também podem ser exploradas.

Redução do estresse

Atualmente, o estresse no ambiente corporativo tem provocado a temida síndrome de burnout que ocorre devido ao esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho. Com isso, os níveis de absenteísmo e rotatividade crescem na empresa. Sem falar da queda da produtividade do profissional.

Com a ajuda da neurociência, é possível identificar os gatilhos que disparam o estresse dos colaboradores. Além disso, consegue-se ensinar a equipe a lidar com as diferenças e solucionar conflitos internos. Por outro lado, pequenas práticas embasadas na neurociência podem transformar o ambiente na empresa, de modo que fique mais agradável.

Gestão eficiente dos recursos humanos

Tanto no processo seletivo externo quanto no interno, a neurociência direciona a escolha do colaborador compatível com uma determinada função. Nesse aspecto, podemos citar novamente as atividades experienciais como as dinâmicas em grupo e o Quiz interativo. Em cada uma delas, o participante demonstra, entre outras coisas, os principais fatores que compõem a sua identidade profissional.

Dessa forma, durante o processo seletivo, os gestores entendem em quais funções o profissional pode atuar e o que esperar do seu rendimento. Com certeza, o gerenciamento dos recursos humanos fica mais eficiente.

Enfim, a neurociência e aprendizagem fazem parte de nossa vida desde que chegamos a esse mundo. Por isso, é tão fundamental que andem juntas no direcionamento do programa de aprendizagem das empresas. Podemos esperar muitas outras descobertas dessa união para o mundo corporativo. Ainda bem!

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